A diversidade aqui no Vale do Silício está literalmente a cada esquina. Sou Brasileiro e sequer me sinto um estrangeiro. Não à toa, aqui é um dos principais pólos de criação e inovação do mundo atraindo mentes incríveis em meio ao boom tech que estamos vivendo.
Se analisarmos, a inovação e criatividade surge da habilidade e capacidade de nos expressarmos. Estamos constantemente pensando, logo estamos criando. Dentre inúmeras variáveis que levam ao sucesso, bancar a nossa própria história e ideia pode ser uma das coisas mais desafiadoras da vida. Seja pela coragem de expressão e/ ou pela própria viabilização econômica de tirar uma ideia do papel; claro, sem falar de aspectos burocráticos.
Reflita quantas vezes deixamos de nos expor por medo de ser julgado. A quantidade de padroes que temos que seguir e inversamente proporcional a manifestação de novas ideias. Simplesmente porque a inovação e criatividade rompem tradições. Agora, imagina viver num espaço onde o olhar para o “diferente” seja mais valorizado e menos julgado?
É nessa fusão entre espaço acolhedor e recursos que a inovação pulsa. É isso que enxergo acontecer aqui no Vale. Pessoas de diferentes etnias e backgrounds coexistindo e trocando a partir de uma
configuração diferente de valores. Vejo que a necessidade de impressionar o outro pela matéria e aparências é menor, ao passo que o valor que é dado para a criação e expressão é bem maior. Sem
entrar no que e certo ou errado, pois isso e relativo, mas de uma forma geral, percebo que aqui valoriza-se mais quem você é do que o que você tem.
Inevitavelmente esse contexto me faz refletir sobre quantos talentos e ideias são desperdiçados no Brasil por vivermos ainda numa sociedade conservadora onde estamos constantemente tentando nos encaixar. Imaginem se as oportunidades fossem mais justas e o convívio com as diferenças fosse mais prazeroso? Temos inumeros povos, raças e culturas e religiões, mas sinto que os projetos que ganham vozes ainda permeiam sempre ao redor dos mesmos grupos.
Difícil pensar em inovação com tanta separação. Entendo que o país está tentando impulsionar uma agenda econômica mais inovativa mas, não dá para deixar de comentar que, de nada adianta termos um país extremamente diverso onde apenas um pequeno recorte social possui acesso às ferramentas e consegue de fato se expressar. É como ter uma garagem com carros de diversas cores e modelos onde apenas meia dúzia sabe dirigir e ainda dirige sempre os mesmos carros.
Como incluímos e conseguimos apoiar aquilo que sai da nossa referência de normal? Como conectar e alavancar os diversos mundos que existem dentro do Brasil? Podemos pensar em globalização, acordos internacionais, etc, mas, no final do dia, apenas nós, Brasileiros, conseguiremos organizar e reinventar a nossa própria casa.
Publicado originalmente em https://spdiario.com.br/fernando-maskobi-inovando-ou-copiando/